Well, o objectivo inicial era criar uma linha de história que servisse para uma manga...acabou por ficar escrito num estilo predominantemente narrativo e o mais "visual" possível xD Here it goes ... = )
Chapter 1 - "The Faceless Warrior" /// " O Guerreiro sem Face "
Nasce o dia cinzento na cidade de Éden. A chuva cai insistentemente ouvindo-se por toda a cidade os prenúncios evidentes de uma forte tempestade.
Fecham-se as janelas de todas as casas. Éden parece “adormecida” agora que o dia começou, mas para os habitantes desta cidade tudo tem mais significado – um significado obscuro e envolvido em profundo mistério.
A cidade de Éden foi em tempos uma das cidades mais importantes do reino Aesturia.Imponente e grandiosa, dotada de extrema influência no mercado imperial, a cidade de Éden facilmente se expandiu, dando origem a um marco obrigatório de importância político/estratégica para todo o império. Contam as vozes mais antigas, já desgastadas pelo tempo e pela mágoa, que a cidade abarcava nos seus tempos de glória mais de cerca de 500 milhares de cidadãos. Éden era conhecida orgulhosamente como a “Cidade da Luz”, uma cidade que indiferente ao tempo,conhecia apenas a face do dia. Não se esperava em Éden outra coisa senão o habitual sol brilhante, claro prenúncio do favor divino para todos os habitantes da real cidade.
Tudo foi assim durante vários anos até que chegou o fatídico dia -a Cidade da Luz assistira assim à chegada do Guerreiro sem Face.
Este misterioso homem apareceu há cerca de 10 anos atrás perante o pórtico central da cidade de Éden, despertando rapidamente a curiosidade dos habitantes. Muito alto e musculado, transportava consigo uma espada da sua altura, levando-a ao ombro aparentemente indiferente para com o óbvio peso da sua arma. A espada era em tudo semelhante ao homem que a transportava. Misteriosas inscrições numéricas eram visíveis num dos gumes da lâmina assassina sendo que o outro gume apresentava-se de uma cor vermelha e sombria.
Mas o que mais assustou os habitantes foi, sem margem para dúvidas, a cara do misterioso guerreiro. Toda ela estava tapada por uma máscara que lhe cobria o rosto com excepção de um único olho vermelho, que parecia perscrutar e sentir o pulso da cidade. “Não teria sido preciso a máscara”, de certo, foi o que pensaram os habitantes de Éden pois os cabelos desgrenhados e totalmente brancos do homem cobriam-lhe parcialmente toda a face e à semelhança da sua espada eram igualmente longos, contribuindo ainda mais para a aparência insólita do homem.
Rapidamente a multidão se dispersou. Simplesmente não queriam fixar algo que identificaram como estranho e perigoso.
Aparentemente alheio a tudo o que se passava, o homem caminhou pela cidade, arrastando agora a sua espada pelo chão indefeso,que tal como uma folha de papel dobrada pelas mãos de uma criança, ia ficando facilmente marcado.
Parecia andar sem destino, andava, andava, andava … sempre em frente, simples atitude de quem parece somente estar a matar tempo.
Tudo pareceu mudar com a chegada da meia-noite. Subitamente, o misterioso homem parou e levou a mão a um dos bolsos do seu longo casaco, retirando um estranho recipiente oval coberto de um líquido tenebrosamente vermelho. Repentinamente e com uma precisão de movimentos delicados e rápidos, que pareciam contrastar com
a sua aparência, o homem esvaziou na rua da cidade todo o líquido contido no recipiente. Baixando-se e retirando uma das luvas que usava constantemente, começou a desenhar com as sua mão um sem número de formas e sequências no chão da cidade.
O seu trabalho estava agora concluído. Quem naquele momento olhasse para a rua deserta em que se encontrava este homem, poderia ver no chão uma marca hexagonal contendo no interior estranhas figuras aliadas a uma sequência de números aparentemente aleatórios.
Levantou-se então o misterioso guerreiro e, levando a mão à face oculta, afastou com um golpe suave o cabelo que lhe cobria toda a face. Olhou para o céu e murmurou algumas palavras desconhecidas, dotadas também de profundo mistério e aura mistíca. Que linguagem era aquela que não parece existir neste mundo?
Subitamente o círculo vermelho começou a brilhar. Parecia estar vivo e ascendia subitamente,como que nascido do chão da rua sombria e agora encaminhando-se em direcção ao Sol.
O homem continuava a olhar e mesmo sendo difícil perscrutar as suas emoções adivinhava-se facilmente aborrecido, como uma pessoa que já passou por uma situação inúmeras vezes até ter perdido finalmente conta.
O círculo chegara então ao Sol. Ouviu-se no horizonte um grito lancinante de dor e as primeiras faces foram avistadas nas janelas das várias casas. Era o pasmo geral! Os habitantes olhavam assustados para um céu que nunca tinha visto tendo saído mesmo de rompante para as ruas da cidade para melhor admirarem o estranho fenómeno.
O Sol, que sempre brilhara perante a cidade de Éden, fora envolvido pelo círculo criado pelo homem. Uma luz vermelha invadia agora toda a cidade e ouviam-se pelas ruas gritos e palavras desconhecidas, exactamente iguais àquele primeiro grito de dor que acordou toda a cidade.
Se tal visão era já em si estranha nada poderia ter preparado os cidadãos de Éden para o que viria a acontecer.
Do Sol vermelho e angustiado, claramente visível no céu, saíam agora figuras encapuçadas todas elas transportando correntes nos pulsos, nas pernas e no pescoço gritando incessantemente num tom agudo e assustador.
Instalou-se o pânico geral na cidade. Todos os habitantes fugiam agora da estranha aparição. Não pensavam em absolutamente mais nada, a não ser fugir daquilo que viam e não conseguiam compreender. Rapidamente foram circundados pelas figuras pretas que continuavam o ritual incessante de gritos dolorosos. Completamente petrificados, os habitantes de Éden olhavam indefesos para aquelas criaturas, claramente de outro mundo que não este onde tal coisa jamais tinha sido vista.
Pararam subitamente os gritos. As figuras encapuçadas deram as mãos esguias e definhadas perante uma atmosfera agora calma, circundando toda a cidade.
Rajadas súbitas de vento começaram a ser então sentidas perante o céu
perturbado e, desta forma, foi facilmente revelada a identidade dos
encapuçados. E que surpresa!
Os mantos que tinham provocado o medo na população de Éden estavam completamente vazios.
Perante o ar de choque dos habitantes começou a ouvir-se pela primeira vez uma voz distante que chorava. As figuras encapuçadas acompanharam essa voz,chorando também agora perante o olhar estupefacto dos cidadãos.
Tudo aconteceu em breves momentos. O céu perdeu a sua cor e perante a melodia de lágrimas criada, a população de Éden viu pela primeira vez um céu sem sol nem brilho qualquer. Fechava-se cada vez mais o círculo das figuras encapuçadas perante o grito assustado dos habitantes. As mãos destas que até então estavam dadas partiram em busca dos habitantes que procuravam novamente fugir. Mas já não havia nada a fazer! Uma vez tocadas as pessoas começavam a desaparecer sendo absorvidas para o interior dos misteriosos mantos, mantos esses feitos de um material que não existe neste tempo e espaço.
Era o caos geral! Por toda a cidade ouviam-se gritos, crianças a chorar e os primeiros edifícios começavam finalmente a arder.
A Cidade da Luz estava agora imersa no caótico brilho das chamas. Gritavam então crianças,inúmeras vozes desconhecidas pediam por ajuda mas nenhuma voz lhes dava resposta. Estavam condenadas a desaparecer naquele fatídico ritual.
Horas depois a cidade estava finalmente em silêncio, não se ouvindo sequer uma única voz que perturbasse a calma finalmente conseguida. O homem que até então permanecera estático estendeu para o céu a sua mão. Pronunciando novas palavras naquela estranha linguagem o círculo criado soltou-se e retornou para o misterioso
recipiente. Nesse momento todas as figuras encapuçadas desapareceram ficando a cidade finalmente adormecida.
Caminhava agora o homem de regresso ao pórtico da cidade, aparentemente tranquilo perante a pilha de corpos que se acumulavam nas ruas, uns queimados, uns torturados e outros que parecendo vivos tinham perdido completamente a cor do seu olhar. Era esta a visão de uma cidade destruída, vencida por um só homem – a cidade sem sobreviventes.
Ou assim pensava pelo menos o misterioso homem…
Tinha já chegado à rua por onde entrara na cidade quando de repente sentiu algo a bater contra as suas pernas. Aparentemente interessado olhou para trás com a fria calma que tão bem o caracterizava, desferindo no inimigo desconhecido um preciso golpe com a sua espada. Pela primeira vez adivinhou-se um ar de preocupação por detrás daquela face sem emoções.
No chão estava estendida uma criança de 5 anos agora atingida pelo seu golpe no olho esquerdo. Tinha já também perdido o seu braço direito agarrando o coto com a sua outra mão e tentando com todas as suas forças manter-se em pé para encarar o homem. Foi nesse momento que se cruzaram os olhares entre o vermelho sangrento do guerreiro e o azul feroz do rapaz que, agarrando-se com toda a força que tinha à vida, perseguira então o homem que causara tudo aquilo.
Não se aguentou mais. Desmaiando, possivelmente por causa de todo o sangue, perdeu-se num movimento de queda longo e gracioso até embater finalmente com as suas pequenas costas no chão coberto pelos corpos de muitas outras pessoas.
Não estava morto,torcendo-se ainda a sua cara num esgar de dor. Curiosamente a sua face transmitia ainda alguma calma assemelhando-se a uma criança que dorme com um ar de curiosa determinação e teimosia.
Francamente surpreendido, o homem mirava a figura frágil da criança que ainda lutava para se manter viva. Não esperara que tal pudesse acontecer. Aliás, era de facto a primeira vez que tal acontecia… que alguém sobrevivia ao “Banquete dos Deuses.”
Profundamente interessado sentou-se ao nível do rapaz. Levando a mão à espada e estendendo a sua mão novamente para o ar, murmurou uma série de novas palavras. Das várias casas ainda intactas, do chão e até mesmo do ar desprenderam-se várias partículas assimiladas conscientemente pela vontade do homem. Um novo círculo hexagonal tinha sido formado. No centro desse círculo surgia algo semelhante a um espectro de um braço completamente preto contendo em si a seguinte sequência “00.00.00 Shirou”. Ainda flutuando misteriosamente no ar o braço tornava-se cada vez mais sólido aproximando-se lentamente do coto mutilado da criança. Num instante que pareceu durar um segundo todo o sangue que a criança perdia cessou e um novo e bizarro braço estava agora anexado ao corpo da criança que dormia profundamente alheio a tudo o que se passava.
Passaram mais umas horas sem que o homem saísse do pé da criança. Ainda manifestamente interessado no que presenciara, o Guerreiro sem Face removera a sua máscara pela primeira vez nos últimos 10 anos. Com outro golpe simples e preciso removera o seu olho oculto. Se alguém naquela cidade estivesse ainda vivo poderia ter ouvido a única manifestação de dor deste homem sem emoções. Era um olho estranho, de um preto semelhante ao do seu novo braço mas totalmente espiralizado por tons de um azul profundo.
Virando as costas à criança, a figura do homem que lhe dera uma segunda oportunidade, desaparecera para sempre murmurando as últimas palavras que alguma vez lhe foram ouvidas:
- Será interessante ver o que fazes com a tua segunda vida, Shirou…
Nesse momento choveu pela primeira vez na Cidade da Luz. Pesadas gotas de um intenso vermelho competiam agora na “natural queda”, pela chegada ao solo de uma cidade eternamente vencida…
Nuno Santos // 20 de Julho 2009