Esta história é um one-shot bastante curto que concilia a presença de um narrador profundamente reflexivo e a implicação da sua introspecção na vida de um rapaz chamado Jin... é um texto pequeno...espero que percam um bocado do vosso tempo a lê-lo e gostem ( é sempre melhor quando recebemos alguns comments xD)
The Beginning of Something New // O ínicio de algo novo
Amanhece lentamente na pequena cidade de Barrow. Timidamente na linha ténue e distante a que chamamos horizonte, o Sol lá vai aparecendo aos poucos, para dar um pouco mais de brilho a esta pacata cidade onde tudo é conhecido e todos se conhecem. Quem passasse naquele momento por Barrow veria o que a rotineira cidade sempre oferece.
8 da manhã...Barrow dorme ainda pacífica como seria expectável, cortinas corridas, ruas vazias, retrato temporário de uma cidade abandonada. Nem o pouco vento que se sente parece perturbar o descanso da cidade, caem assim as folhas , também elas pacatas, num manto outonal de graciosidade e calma.
É esta a cidade onde por instantes ainda dorme o jovem Jin. Sonhará ainda? Sejamos justos, deixemo-lo sonhar... por vezes a vida é isso mesmo - um deambular constante na avenida entre o real e imaginário.
Dorme Jin, dorme... alheio a tudo, quanto mais livre és assim. Sabias? Neste mundo tudo tem uma voz. O universo é em si uma melodia de planetas infindáveis, as estrelas cantam e mesmo o Sol, tímido durante a noite, por vezes nos fala.Sabias? Tua existência, pequena na ordem das "grandes" existências, é em si também uma melodia..baixa..suave..perceptível apenas por alguns.
São agora 10 horas da manhã. Os primeiros feixes de luz trespassam para o quarto de Jin e já se ouvem indícios de uma cidade que lentamente vai acordando.
- Já são horas - lamentou ainda sonolento Jin.
Pondo-se a pé a custo, começou a vestir-se em frente de um espelho. O seu olhar verde foi-lhe devolvido. Ainda ligeiramente confuso olhou a figura magra e alta de um jovem de 17 anos que o fitava interrogativamente. Ah! "Solene ritual" juvenil é este o de acordar...despertadores infernais, sucessões infindáveis de rotinas,indumentária apressada para mais um dia... Sim, pois que é a vida senão a cíclica sucessão de dias?
Descendo apressadamente as escadas, e levando a mão á cabeça lá fez uma última tentativa de domar um cabelo que tinha de tudo menos ordem.
-Mãe, onde está o pão? - inquiriu o jovem em voz alta- "Já me esquecia" - repetiu conformado. Olhando para a porta do frigorífico, viu que lá constava novo recado. Não se deu ao trabalho de o ler. Uma simples nota tinha para si o mesmo significado de sempre - hoje estaria por si mesmo.
Levando a mão ao bolso e verificando que lá se encontravam as chaves da sua moto, saiu tranquilamente de casa. Tiraria o dia para fazer as habituais entregas a que o seu novo part-time o obrigava...
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Numa sala muito clara em tudo semelhante àquilo a que chamamos "céu", um homem de longas barbas encontrava-se sentado numa alta cadeira transparente. Estranha sala parecer-nos-ia esta! Por toda a divisão levitavam relógios de todas as formas e feitios, suspensos e inertes num movimento sem graça.No centro da sala via-se ainda uma cadeira, estranhamente detalhada que era claramente uma bizarra forma de nuvem.
- Onde está Mira? - interrogou de repente uma voz trovante.
- Já a procuramos por todo o lado Chrono - respondeu de imediato uma voz doce - Fiz questão de interrogar todas as suas irmãs e nenhuma sabe o que se passou de facto.
-Podeis retirar-vos - retorquiu visivelmente aborrecido. Impaciente levantou-se e começou a caminhar em volta da sala, aparentemente sem destino algum. Estranhos passos eram estes que não produziam qualquer som.
Poder-se-ia chamar àquilo caminhar? A questão permanece, assim como a fúria do velho homem...
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Cai a noite na cidade de Barrow. Ao longe vêem-se no céu as milhares de estrelas, entidades eternas sem nome... ou assim nos habituamos a pensar. Por conveniência? Comodidade? Ou pelo simples conforto de algo que nos acompanha numa existência só? É assim a humanidade, um intrincado e complexo ponto de interrogação. Todavia, na cabeça de Jin não sobeja muito tempo para as demais "filosofias".
Sucumbindo subitamente, fruto do cansaço, Jin adormece. Segue a moto ,assim obedientemente, a sua "última" estrada. Ah! Singular certeza é esta chamada destino...tudo que tem um início obedecerá eternamente a um fim.
Contam as demais lendas que em tempos existira no Universo um Deus chamado Chrono - "O Deus do Tempo". Não satisfeito com a sua existência imortal resolvera limitar o mundo criando essa famosa barreira conhecida hoje por "tempo". O Universo passou a conhecer assim uma nova realidade. Aquilo a que com receio chamamos de "morte" - a nota dissonante da melodia universal.Sucederam-se milhares de anos... a verdade adoptou a forma de lenda, o Deus egoísta é hoje um mito, sobram apenas desse tempo as estrelas, fiéis companheiras da verdade primordeal.
Jin levou subitamente a mão à cabeça. Sentia-a estranhamente quente.Tentou a custo abrir lentamente os olhos. Debruçada a seu lado estava uma rapariga que não conhecia. A sua mão repousava suave sobre a sua cabeça e era ela a fonte de todo a aquele calor estranho.
- Que estranho! - terá pensado Jin. Tentou mexer-se mas o seu corpo não o obedecia. Rapidamente percebeu que não sentia as pernas. Continuava a olhar para a rapariga.Queria pôr no seu olhar o número imenso de perguntas que desejava fazer, mas não adiantava.. não conseguia simplesmente reunir forças para falar. Ainda assim olhava-a. Como era estranha!
Sensivelmente mais nova que Jin e de cabelos totalmente brancos, continuava a seu lado sorrindo incompreensivelmente. Momentos atrás levara os dedos aos lábios, gesto infantil de criança, pedindo-lhe que não falasse. Jin não sabia porquê, mas sentira-se estranhamente salvo naquele momento.
A rapariga levantara-se. Toda a visão de Jin era agora uma névoa indistinta de formas. Tentou erguer a mão e alcançar a rapariga que se afastava...distante, cada vez mais distante. Porque lhe parecia ela estranhamente brilhante?...
- Avô, avô o que aconteceu depois? - interrompeu entusiasmada uma pequena criança. A sua cara iluminara-se num sorriso expectante.
-Mira,o resto fica a cargo da tua imaginação - respondeu o velho avô rindo-se perante a expressão birrenta da sua neta. - Se algo aprendi nesta vida é que nada sabemos ao certo. Para quê contar-te o fim de algo? Quão mais livre é a vida se for sonhada...
Tinham passado 60 anos desde aquele dia, Jin nunca soubera ao certo quem era aquela rapariga. Olhando para o céu, gesto repetido incompreensivelmente ano após ano, mirava a velha estrela que um dia lhe cantara o nome.
Milhares de anos depois, já não existirá Barrow nem pessoas que se lembrem desta história...ainda assim o Universo continuará cantar a infindável medodia chamada Vida.
E assim acaba mais uma das muitas histórias que existem algures...pois no mundo da ficção limitamo-nos a alcançar "mundos" que existem por descobrir... = )
The End!
//Nuno Santos 11 de setembro de 2009) //