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 Reportagem da revista Correio de Domingo 28-10-2007

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MensagemAssunto: Reportagem da revista Correio de Domingo 28-10-2007   Reportagem da revista Correio de Domingo 28-10-2007 Icon_minitimeQua Ago 24, 2011 11:46 am

Ora bem, resolvi trazer-vos hoje uma antiga reportagem sobre a comunidade de anime e manga em Portugal, publicada em Outubro de 2007 na revista Correio de Domingo, que acompanha o jornal Correio da Manhã aos domingos.
É interessante ver a forma como a imprensa vê os fãs de anime e manga e quanto é que as coisas mudaram desde à quatro anos.

Quem quiser ver os scans, pode fazer download deles a partir deste link:
https://rapidshare.com/files/2930912771/Scans_da_Revista_Correio_de_Domingo_28-10-2007.zip



Abaixo segue-se uma copia da maior parte da reportagem.
Tenham em conta que toda a informação abaixo é de 2007, estando por isso desactualizada.
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Gisela tem o castanho na íris do olhar, cabelo curto encaracolado. Os olhos azuis grandes, expressivos, de Sara, e o cabelo em espiral, são referencias corporais de quem se veste de negro - com uns pontinhos garridos nas listas vermelhas do cachecol. Diferentes das japonesas. São as "Shoot to Kill" (na internet em www.shoottokill.wordpress.com ). Têm licença para matar as nossas "fronteiras" com os nipónicos. Os tiros são BD "manga": onde os quadradinhos se lêem do final para o inicio do livro, a capa rouba lugar à contracapa; a preto e branco; com personagens de olhos grandes, corpos delgados. Um "nicho" em Portugal.

Nas prateleiras do estúdio em Arneiro de Marinheiros, Sintra, repousam bíblias "manga". Polvilham-nas pequenas estatuetas de personagens das estórias - bonecos. Tintas, aparos, lápis, agarram-se às mãos a caminho da brancura do papel. Importações do Japão. As conversas são cerejas na boca de Gisela Martins, com 28 anos, e Sara Ferreira, 25. Conheceram-se num concurso de Animação 3D e começaram a compartilhar as pranchas de "manga".

"Os japoneses têm tendência para preparar as crianças para o mundo adulto", diz Gisela. "É óbvio o desenvolvimento da personalidade das personagens", acrescenta Sara. Ambas desenham, desenvolvem o argumento e assinam "Shoot to Kill".


A BD PUBLICADA é um "preview" de uma estória que a dupla de desenhadoras de "Shoot to Kill" prepara. Foi desenhada por Sara Ferreira, na foto à esquerda de Gisela Martins, que desenhou a tira da pagina seguinte.



No Centro Comercial do Lumiar (Lisboa), a loja Jikai foi tirar o nome à expressão que lança as cenas do próximo capitulo no final de um episódio de "anime" (os desenhos animados japoneses). Há um ano nem duas prateleiras de "manga" havia. "Agora multipliquei por oito", conta Leonardo Basílio, de 33 anos. "O que dá esperanças." De lucro. Livros desde "7,99 dólares a 13,55" - em inglês, importados. Custam menos em euros já que o dólar desvalorizou. Só falhou a experiência "ingénua" de importar "manga" em japonês, fazendo fé nos estudantes que aprendem a língua.

A História de Macau também tem ascendente neste investimento. Leonardo nasceu lá. "A Ásia prima pelo entretenimento. Para mim era natural ver na TV os "Transformers" [animação norte-americana com robôs] como o "Conan, o rapaz do futuro" [anime]." Naquele antigo território português, a proximidade com Hong Kong resultava numa miscelânea de canais chineses e americanos. E portugueses. Cá, só havia a RTP e, quando Leonardo veio - com 18 anos - ficou "chocado". Faltava diversidade.

Mas a moda pegou na televisão nacional. A própria RTP transmitiu depois "Conan, o rapaz do futuro"; a SIC "Dragon Ball" e "Dragon Ball Z"; e a TVI emitiu os episódios de "Samurai X".

LEONARDO BASÍLIO, 33 anos, veio de Macau aos 18 para estudar Gestão mas acabou por terminar Informática. Cansado de enviar curriculos sem resposta, decidiu abrir uma loja para vender livros de "manga" e merchandising associado - como os bonecos da pagina ao lado ilustram
Incarnar as personagens não se resume ao imaginário "manga" à imitação do "anime". Veste-se a roupa (e a pele...). É o "cosplay". O cabelo das raparigas cobre-se com perucas em tons de azul ou amarelo exuberante; às roupas acetinadas somam acessórios místicos; enchem-se de romantismo com iluminação nos lábios e uma silhueta oriental no olhar. Eles dominam-se pela acção, por guerreiros futuristas. Até robôs humanóides - como André Filipe, com 17 anos, fica dentro das armaduras criadas pelo próprio. "Em vez de preferir costurar, gosto mais de pegar em plástico e alumínio e moldá-los."

Chamem-lhe "otaku". Fica ofendido. "Eles passam horas trancados em casa. É típico dos japoneses mas está dissociado dos ocidentais" - defende um fã de Corroios, portanto.
Fã também desde os 14 anos, e agora com 28, Ricardo Santos já tem "dificuldades em encontrar uma série de que goste". O finalista do curso de Informática preside à associação Anipop (em www.anipop.org ), com sede em Paço de Arcos (Oeiras). "Temos 280 associados. Quando há uma identificação cultural que não é "mainstream", as dificuldades em encontrar produtos e informação tornam a comunidade mais forte."
A Anipop todos os anos organiza um evento - o próximo, de 28 a 30 de Dezembro 2007, na casa da Juventude do Parque das Nações, em Lisboa - que concentra não só "manga" e "anime" como workshops de desenho ou língua japonesa, concursos de videojogos e "cosplay". Até se canta em japonês!
ANDRÉ FILIPE, 17 anos, vive em Corroios. Este caloiro em Ciência Politica vive a animação nipónica ao ponto de, desde 2002, fazer fatos para se mascarar como as suas personagens de culto. Só para eventos.
Longe dos eventos específicos, se no Japão esta industria é parte da cultura, em Portugal as revistas literárias pouco pegam em "manga". "Não se fala porque a BD é para quem não se esforça a ler", ironiza Ricardo Andrade, de 33 anos. "Há muito o estigma de que a BD é franco-belga [Astérix ou Tintin], nada mais", completa Mapril Santos, de 35.
São ambos responsáveis pelo lançamento da revista on-line "Waribashi" (em www.waribashi.pt ). Só cultura nipónica. Mas Ricardo e Mapril têm vistas largas para a animação japonesa. Esperam ser pioneiros a produzir "anime" no País. É esperar mais seis anos e ver o resultado. Para já editaram três "fanzine" assinadas por Gisela e Sara. Que esgotaram, sem truques na manga.

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