Em memória do amor da minha vida. : ) Uma pequena história com duas partes.
Angel
Parte 1/2
Estava sentado à beira-mar, a olhar para o vasto horizonte. Era quase hora do pôr-do-sol. Eu mirava o céu laranja tão engraçado enquanto o sol começava a descender atrás do bordo da água. Era o calor de um dia de Verão que pairava sobre mim. Que ar tão pacífico, tão calmo, tão solitário...
Aqui estou eu à beira-mar, de tal modo que se tornou um hábito. Deixei a ponta dos meus pés à beira da água, os meus dedos a tremer com o tocar do líquido azul brilhante. Deixei o meu cabelo voar com o vento, em todas as direcções. Deixei a minha camisola voar com o vento da mesma forma. Respirei bem fundo, tomando o cheiro do ar salgado da praia. Era assim que eu passava todas estas visitas a este local tão precioso para mim.
Mas esta visita era diferente.
Os meus pés ainda estavam a tocar no bordo da água. O meu cabelo ainda estava a voar com o vento, tal como a minha camisola. Ainda conseguia cheirar o ar salgado. Mas hoje, e durante todos os dias que me faltavam viver, faço tudo isto sem o amor da minha vida.
Uma pequena lágrima percorreu a minha face à medida que eu percebia o óbvio. Nunca mais vou poder estar ao lado da pessoa que amo. Nunca mais vou partilhar aqueles bonitos pôr-do-sol com a minha alma gémea. Nunca mais vou conseguir ouvir “Amo-te” enquanto o sol se põe. Mais lágrimas começavam a percorrer a minha face, que parecia neste momento feita de porcelana ao brilhar com a luz do sol...
Dei alguns passos em frente, e decidi passear ao longo da costa.
Resguardo as minhas mãos sobre o meu peito à medida que as ondas caiem e se derrubam sobre os meus pés. Pensamentos voavam pela minha mente. Pensamentos de “e se...” e de que maneira poderia tudo ter sido melhor, de que maneira poderia eu não a ter perdido. Antes de perceber, tinha chegado ao fim da costa e tinha um penhasco a bloquear o meu caminho. Virei-me para o horizonte e olhei de modo distante para as ondas que longe pairavam.
De repente, sinto dois braços a esticar-se e a abraçar-me de forma carinhosa no meu pescoço. Fechei os meus olhos, sabendo que era ela a tocar-me.
“Como é que me encontraste,” perguntei eu, fechando os olhos.
Ela gentilmente beijou-me no pescoço. “Eu irei sempre encontrar-te, seja de que maneira for,” murmurou ela ao meu ouvido. Eu deitei para fora um ligeiro sorriso. Ela tinha razão. Ela conhecia-me perfeitamente. Ela sabia que nos íamos voltar a encontrar.
A pessoa que eu mais amava no mundo estava à minha frente e, quando reparei, as lágrimas tinham desaparecido.
Parte 2/2
Ela sabia quando eu estava feliz, ela sabia quando eu estava triste. Ela sabia o que fazer para me animar quando eu estava em baixo. “Quem me dera que pudesse ficar aqui para sempre,” disse eu. Mudei o ângulo da minha cabeça para o lado para que ela conseguisse, enquanto eu saboreava o momento, tocar suavemente com os seus lábios no meu pescoço.
“Sabes bem que não podemos,” murmurou ela, continuando a prestar atenção de perto ao meu pescoço. Deixei sair para fora um longo suspiro. Eu sabia que ela tinha razão. Ela tinha sempre razão. “Eu sei,” respondi de volta, com uma única lágrima a escorrer pela minha face. Ela libertou para fora um pequeno riso. “Ainda te lembras do primeiro dia em que aqui estivemos?” perguntou-me ela, abraçando-se fortemente a mim. Eu sorri e abanei com a cabeça positivamente.
“Eu estava a ler o meu livro, e a tua bola de volley atingiu-me na cabeça,” disse eu com um leve riso, lembrando-me daquele maravilhoso dia. Ela sorriu também. “E eu parti os teus óculos,” lembrou-me ela. Eu não conseguia resistir e voltei a sorrir. Era como uma perfeita e adorável história de amor. “Isto não é real pois não? Não estás realmente aqui, ou estás?” Perguntei, lágrimas formando-se nos meus olhos. Ela suspirou profundamente e acenou. “É apenas um sonho,” murmurando ela ao meu ouvido. Eu acenei de volta, percebendo o que ela quis dizer. Virei-me para a visualizar de frente, pressionando o meu peito contra o dela. “Quanto tempo mais vai este sonho demorar?” perguntei eu, a minha voz tremendo por cada palavra solta. Ela sorriu e afastou um dos seus cabelos que se aconchegava nos meus olhos, como se a querer limpar as lágrimas do meu rosto. “Não por muito mais tempo,” murmurou ela.
Pressionei os meus lábios um com um outro, e depois com os dela, num esforço para não mais chorar. “Eu percebo,” Era como se algo me torturasse, me agarrasse no pescoço com uma força fora do comum, mais lágrimas a percorrer-me o resto. E ela... simplesmente sorriu. “Amo-te,” murmurou mais uma vez e colou os seus lábios ao meus. Senti a minha alma a acalmar com o carinho da mulher que tanto amo...
Ela beijou-me suavemente com os seus lindos lábios, enquando eu me derretia à medida que ela passava as mãos pelo meu cabelo. Era como se durasse para sempre, os nossos lábios a dançar à moda da natureza. Poderia ser apenas um sonho, mas sentia tudo tão real.
Ela quebrou o beijo e pressionou a testa dela contra a minha. “Tu és o meu anjo,” disse ela. "Eu? Se há algum anjo aqui, és apenas tu". E, com isto, ela desapareceu no vasto azul do mar e na brisa salgada que nos cobria. Quase rebentei em lágrimas quando me apercebi que tinha perdido o amor da minha vida. Contudo...
Quando reparei, tudo à minha volta desaparecia, e um manto branco cobriu tudo em redor. Era uma sensação estranha, como se estivesse perto de entrar no álem. Quando me apercebi, tinha a percepção de conseguir sentir todo o mundo que se situava por debaixo de mim, de estar em qualquer lugar em qualquer momento. Contudo, era naquela praia, ao pôr-do-sol, com uma pequena sombra que se avistava sobre a lisa areia, onde o meu olhar se focava. Era ela, a minha paixão, que para cima olhava, como se à espera de um milagre.
Só ai me apercebi que era eu que olhava por ela e então me lembrei de todo o que ocorreu anteriormente. Como se ela me tivesse emprestado as suas leves e frágeis asas para eu poder olhar por ela para sempre, cá de cima. Como se esperasse de novo por mim para mais uma vez sentir o calor do meu abraço e dos meus lábios naquele sítio tão especial para nós. Sim, era eu o anjo dela.
E, devagar, fechou os olhos como que a implorar por mais um sonho com o seu anjo, eu.
“Não, o anjo continuarás sempre a ser tu...,” disse eu ao sabor do vento, a olhar para o céu que cobria a sua aura angelical.
Eu tinha morrido à 2 semanas num acidente de comboio, e ela todos os dias se sentava naquela praia à espera que eu descendesse dos céus para, por mais um pouco, partilhar mais um sonho com o amor da sua vida...
FIM